Julgamos que, depois de tudo o que lemos e investigamos, é, realmente, o rajão o instrumento de cordas por excelência da R.A.M. Sem dúvida, o instrumento mais popular do folclore madeirense, indispensável companheiro dos folguedos e brincos que acontecem por toda a região ocupando, por isso, uma posição relevante entre os instrumentos de cordas ditos por tradicionais do arquipélago da Madeira. O rajão é, indubitavelmente, um instrumento tipicamente madeirense, embora existam documentos que falam de um «Machinho» de cinco cordas no século XVIII, em Guimarães. A sua importância sócio-musical tem muito mais influência nas zonas rurais, principalmente pela sua facilidade em acompanhar em qualquer ritmo. É também um instrumento com grande versatilidade, muito fácil de ser tocado em qualquer tom, seja ele maior ou menor e não como erradamente algumas pessoas noutros tempos lhe atribuíam a condição de só ser capaz de ser tocado em tons maiores. Há quem defenda que deriva da viola francesa (guitarra acústica, violão, guitarra espânica e mais vulgarmente viola) e talvez tenham razão, visto a semelhança ser muito evidente, seja no formato, bem como na execução dos acordes. Este tipo de instrumento, em tempos idos, foi levado por madeirenses para o Hawai, onde lhe deram o nome de ukulele. Em Agosto de 1998, estiveram na Madeira três músicos, tocadores do ukulele, com quem tivemos o ensejo de tocar alguns temas, no Café do Teatro Municipal, mais precisamente no dia 22. Posteriormente, os mesmos estiveram na Camacha, sede do grupo «Encontros da Eira», em convívio com elementos executantes deste grupo. Naquela zona do globo, sofreu algumas adaptações, sendo encordoado com quatro cordas, e apesar de existirem alguns com tamanho inferior ao do nosso rajão, existem também muitos outros do mesmo modelo e dimensões. Existem algumas divergências de opinião acerca da sua descendência: se do rajão ou do braguinha; no entanto, chamo atenção para o facto da sua afinação ser igual à do rajão e não à do braguinha. Para além do mais, foram construídas grandes quantidades e exportadas para a África, por volta do ano 1897. Sua afinação e encordoamento:
O rajão tem cinco cordas, dispostas da forma seguinte (de baixo para cima e/ou do agudo para o grave): 1ª Lá (carrinho – Nº-10) 2ª Mi (carrinho – Nº- 4) 3ª Dó (bordão – Nº- 41 – si da guitarra portuguesa) 4ª Sol (toeira * carrinho – Nº-9) 5ª Ré (bordão – Nº- 41 – si da guitarra portuguesa) * Toeira é a corda que dá o tom da afinação de qualquer instrumento. É de realçar que o rajão tem uma curiosa disposição no seu encordoamento, sendo a terceira corda um bordão, produzindo uma sonoridade sui generis. Na sua forma original, tem 17 trastes, 66 cm de comprimento total, 32 no comprimento da caixa harmónica e 21cm e no espaço mais largo da sua caixa harmónica. O exímio tocador de cordofones tradicionais da Madeira, tem uma particularidade ímpar na sua forma de execução, sendo que o vulgar «tocar de rasgado» faz-se com o emprego dos dedos anelar, médio e indicador, passando sobre todo o seu encordoamento, num movimento com o punho no sentido de cima para baixo, alternando com outro movimento do polegar de baixo para cima, sendo que o esquema pode ser inverso. «O rajão é um instrumento acompanhador por excelência !?.» (dito popular) Sempre foi hábito tomar a utilização desta frase como verdadeira. Ainda noutros tempos, muitas pessoas, erradamente, defenderam a tese de que este instrumento só era tocado em tons maiores, e unicamente em acompanhamento. No entanto, com o surgimento de grupos de música tradicional, como o Encontros da Eira, e/ou outros e ainda alguns (muito poucos) grupos folclóricos, os músicos seus componentes exploram o rajão de uma forma mais consentânea com as características e capacidades que este tipo de cordofone pode oferecer, vendo-se que ele é também um óptimo instrumento de solo (ou ponteado, como vulgarmente diz o nosso o homem do campo), sendo tocado ainda em tons menores.
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